“Também
eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as
portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos
céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na
terra terá sido desligado nos céus. Mateus 16. 18, 19
Pastor
Sandro, segundo a sua opinião, qual a melhor interpretação para o texto acima?
Pr.
Wagner
Querido
pastor,
Existem
três interpretações muito defendidas acerca desta passagem.
A
primeira e a mais conhecida é aquela argumentada pelo romanismo como sendo a
declaração de Jesus como a primazia de Pedro sobre a Igreja e os demais
apóstolos, denominando-o vigário, isto é, substituto de Cristo, e o primeiro
papa.
A
segunda é aquela que aceita a declaração como indicação do apóstolo Pedro como
uma importante pedra do alicerce da
igreja primitiva, jamais comparando-o a Cristo, ou exaltando-o acima dos demais
apóstolos.
A
terceira é a que defende que a pedra sobre a qual Cristo disse que edificaria a
Sua igreja, não é o próprio Pedro, e sim a sua declaração anterior acerca de Jesus:
Mateus 16.16 Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Mateus 16.16 Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Quanto
à primeira afirmação, podemos dizer que carece de apoio bíblico e histórico,
pois nem Pedro foi chamado de vigário de Cristo e nem foi o fundador da igreja
de Roma. É sabido que quando o apóstolo Pedro foi para Roma, já havia lá uma
comunidade de Cristãos, certamente convertidos no dia de Pentecostes, relatado
em Atos 2, e, lembremos que o único substituto (vigário) que Jesus, o Deus
Filho, aceitou, como a sua presença permanente entre nós é o Espírito Santo,
também conhecido como Deus Espírito.
Por
isso foi que Jesus disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre, o Espírito da verdade, que o mundo não pode
receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita
convosco e estará em vós”.João 14. 16, 17.
Creio
que, podemos aceitar a segunda interpretação como o mais correto e lógico
entendimento da passagem, desde que não lhe confiramos uma importância além,
que o próprio Pedro jamais desejou, como ele mesmo salientou a Cornélio em Atos
10. 25,26:
“Aconteceu que, indo Pedro a
entrar, lhe saiu Cornélio ao encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o
adorou. Mas Pedro o levantou, dizendo:
Ergue-te, que eu também sou homem”.
Isto
posto não é errado afirmar que foi do agrado do Nosso Senhor chamar e usar
homens para fundar a Sua obra evangélica no Novo Testamento, dentre eles Pedro
e os demais apóstolos.
Jesus
tanto disse de Pedro: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado
nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (Mateus
16. 18, 19), como aos outros apóstolos ele falou: “Em verdade vos digo que
tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que
desligardes na terra terá sido desligado nos céus” (Mateus 18.18).
Com
isso concordam as palavras de Paulo quando diz sobre os cristãos: Assim que
já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas
concidadãos dos Santos e da
família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edificados
para morada de Deus no Espírito. Efésios 2.19-22.
Assim
vemos a enorme importância que tiveram os apóstolos e os profetas na formação
da Igreja Cristã; posição que nenhum homem hoje pode tomar para si. Mas tomemos
cuidado para não alçarmos o apóstolo Pedro a uma condição que jamais lhe
pertenceu, pois em Mt 16 tanto Jesus chamou a Pedro de pedra de fundação, como
logo a seguir o apontou como de pedra de tropeço:
Mateus 16:18 Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Mateus 16:23 Mas Jesus, voltando-se, disse a
Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das
coisas de Deus, e sim das dos homens.
Veja
também que os demais apóstolos, juntamente com Paulo, embora amassem e respeitassem
a Pedro, não o tomavam como seu superior e nem mesmo como o detentor da última
palavra, como exemplo dou-lhe o primeiro concílio da Igreja em Jerusalém, de
Atos 15, onde os apóstolos Paulo e Pedro tiveram fala, mas a decisão final
ficou por conta de Tiago, o irmão de Nosso Senhor , que, embora não fosse
apóstolo, naquele tempo era o pastor em Jerusalém:
“E toda a multidão silenciou,
passando a ouvir a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios
Deus fizera por meio deles entre os gentios. Depois que eles terminaram, falou
Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas minhas palavras: expôs Simão como Deus,
primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para
o seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito:
Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e,
levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem
o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu
nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos. Pelo que,
julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a
Deus”. Atos 15.
12-19
Como
exemplo mais impressionante da realidade que procuramos demonstrar temos a
carta aos Gálatas onde Paulo fala abertamente
do momento em que ele precisou repreender o apóstolo Pedro:
“Quando, porém, Cefas veio a
Antioquia, resisti -lhe face a face, porque se tornara repreensível. Com
efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios;
quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar -se, temendo os
da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o
próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles. Quando, porém, vi
que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas,
na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu,
por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” Gálatas 2:11-14.
Assim sendo, mesmo
reafirmando o caráter importante e único dos verdadeiros apóstolos de Cristo na
história da Igreja Cristã, jamais poderemos chamar algum deles de “vigário”
(substituto) de Cristo. Pois todos somos pedras na Igreja de Cristo, uns mais
outros menos importantes, enquanto Jesus é a única Principal e Fundamental Pedra
da Sua Igreja.
Leiamos
o que Pedro disse de Jesus: “Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens,
mas para com Deus eleita e preciosa,
também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual
para serdes sacerdócio santo, a
fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por
intermédio de Jesus Cristo. Pois isso
está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa;
e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros,
portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que
os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular” 2
Pedro 2. 4-7.
Temos
certa simpatia pela terceira interpretação, que salienta a declaração de Pedro
acerca da divindade e da missão de Jesus, que é a nossa confissão de fé.
Todavia, necessário se faz reconhecer que não é a interpretação mais natural
para a passagem, e que tem como sua força principal a fuga ao erro do romanismo,
ao qual não cederemos se nos atermos tão somente ao que a Bíblia ensina acerca
dos limites da importância dos apóstolos.
Deste
modo, sejamos pedras deste templo espiritual; mas, jamais esqueçamos que Cristo
é a incomparável Pedra Principal, à qual ninguém, seja Pedro ou o papa, poderá se
igualar ou substituir.