O Pb. Carlos Alberto solicitou:
Caro Pr. Sandro, discorra sobre a validade do batismo infantil!
Amado irmão e Pb. Carlos, de forma breve vou pontuar acerca do fundamento bíblico e teológico para batizarmos os filhos dos crentes.
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. Mateus 28. 18-20
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente”. I Tm 5:8
Deste modo, o batismo é o sinal e a
confirmação da entrada do indivíduo na Igreja, como comunidade da aliança com
Deus. O batismo com água representa a nossa inserção ao povo do pacto; assim
como foi com a circuncisão no antigo Israel, é agora com o batismo no Novo
Israel de Deus, a Igreja Cristã; e isto está em perfeita sintonia com o pastor
Zuínglio, quando dizia que “o batismo infantil era um fato essencialmente eclesiástico”. Com o batismo, assumimos os menores,
filhos dos crentes (e crianças em sua guarda) como crentes também. Damos-lhes a
educação e o tratamento de legítimos membros da família da aliança,
ensinando-lhes as verdades e as responsabilidades do verdadeiro compromisso com
Deus; enquanto rogamos a Deus que, por sua obra interna, produza neles os
frutos de uma nova vida, que serão visíveis na idade da razão, e posteriormente
confirmados em sua pública profissão de fé. Graças ao bom Deus inúmeras vezes
temos colhido semelhantes resultados. E quando não ocorre a profissão de fé do
adulto que foi batizado na infância, é este automaticamente excluído do rol de
membros menores, devendo ser acompanhado de perto pela igreja, com as orações
de que a semente plantada na infância venha um dia, finalmente a florescer.
Para
aqueles que exigem um texto bíblico que ordene explicitamente o batismo
infantil, devolvemos a obrigação de apresentar o fundamento que os crentes
atuais têm para não contemplar as crianças como corpo de Cristo; será que
apenas a Antiga Aliança é que prezava os pequeninos como parte integrante do
povo de Deus?
Todavia,
alguns objetam citando Marcos 16.15. “Quem crer e for batizado será salvo”,
dizendo que sem fé não pode haver batismo; mas esquecem que este texto nem de
longe tenta tratar acerca do batismo infantil, seja condenando-o ou
ratificando-o. Pois, se este fosse o caso, como trataríamos o final: “e quem
não crer será condenado”? A criança que ainda não pode crer está condenada?
Creio que semelhante sentença só poderia ser dada pelo Senhor Jesus; mas ele,
muito ao contrário, ao se referir às crianças que eram levadas pelos pais
crentes à sua presença disse: “dos tais é o reino dos céus” (Lc. 18.16).
Todavia este mesmo texto é citado pelos anti-pedobatistas, como que a perguntar:
se as crianças devem ser batizadas, não seria aquele o melhor momento de
fazê-lo? Por que não se diz que Jesus as tenha batizado, apenas que elas foram
apresentadas a Jesus, como é feito na igrejas batistas de todo o mundo.
Entretanto, mais uma vez, o silêncio não serve nem para provar que aquelas
crianças foram e nem para dizer que não foram anteriormente batizadas
juntamente com seus pais; contudo, despreza-se um ponto importantíssimo do
texto, pois, Jesus disse daquelas
crianças que elas já possuíam a cidadania do reino de Deus, e como o batismo
com água é apenas a representação visível desta realidade, e tendo elas a
realidade garantida por Jesus, a figura, que é elemento secundário diante da
realidade, não lhes pode ser negada.
E,
quanto à fé, como elemento instrumental da salvação, podemos dizer que em muitos
pontos da Escritura encontramos a inserção das crianças, antes mesmo que
pudessem crer, vemos que a ação de Deus antecipa-se e ocasiona a resposta
positiva do homem, de tal modo que pela soberania divina, até mesmo crianças
ainda não nascidas já são dadas como regeneradas, como foi o caso de João
Batista, que era cheio do Espírito Santo desde o ventre materno, e de lá já se
regozijava com a proximidade do Filho de Deus (cf. Lc. 3). Este foi também o
caso de Sansão e Samuel, que, como nazireus de Deus, foram especialmente
dedicados ao Senhor por seus pais, desde o ventre materno, para não apenas
serem tomados pelo Espírito Santo para uma obra, e sim para todo o desenrolar
de sua vida, onde, a despeito de suas falhas e pecados, completaram
brilhantemente a obra à qual foram chamados. Alguém pode replicar que foram
casos especiais; e de fato, foram casos especiais como Isaque, Moisés, Davi,
Jeremias, Timóteo e tantos outros, do Antigo e do Novo Testamento, dos quais a
Bíblia nada fala de conversão, e reconhecemos que eles carregaram em sua carne
e honraram o sinal do compromisso de sua família com Deus, pois eram de fato e
de verdade filhos de Abraão. Embora não possamos dizer que isso se dê com todas
as crianças, e nem mesmo com todos os filhos de crentes, mas demonstramos que
não há impedimento algum de Deus regenerar e salvar aqueles a quem quer, mesmo
que estejam ainda impossibilitados de entender ou de exercer fé. É, realmente,
uma grande bênção, e um favor especial da parte de Deus, manifestar-se
graciosamente aos filhos de seus filhos, e quão terno e sublime é ouvir o nosso
filhinho dizer suas primeiras palavras e suas primeiras orações.
Não
se trata de afirmar aqui, como querem alguns, que todo o filho de crente tem a
sua salvação garantida. E, infelizmente há os que citam Atos 2.39, como se tal
coisa fosse promessa de Deus; mas vejamos:
“Pois
para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda
estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”.
É
evidente aqui o compromisso de Deus com as futuras gerações, inclusive com o
vasto números de crentes que o Senhor suscita nos lares cristãos, mas ainda
fica saliente o fato de que Deus se reserva o direito de chamar quem lhe apraz,
pois, do contrário, seríamos levados a defender a doutrina universalista, uma
vez que todos descendemos do justo Noé; contudo, diz a Escritura:
“tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, ainda que
Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, não salvariam nem a seu filho nem a
sua filha; pela sua justiça salvariam apenas a sua própria vida”. Ezequiel
14:20
Também
não podemos esquecer de outros exemplos de filhos que até em seus últimos
momentos contradisseram os ensinamentos de seus pais, como Absalão filho de
Davi, que morreu tentando matar o pai (2 Sm. 15 - 18), e o idólatra e
infanticida Acaz, filho de Jotão e neto de Uzias (2 Reis 16), entre outros;
tipos aos quais bem se aplica a pregação de João Batista: “e não comeceis a
dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão, pois eu vos afirmo que destas
pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (João 3.8). E não nos surpreendamos
que acerca de muitos destes pode bem ter sido dirigida a exclamação do apóstolo
João: “Eles saíram de nosso meio, mas não eram dos nossos; porque, se tivessem
sido dos nossos teriam permanecido conosco; todavia eles se foram para que
ficasse manifesto que nenhum deles eram dos nossos” (I João 2.
19). E isto não se observa apenas no passado, pois, com tristeza temos visto se
cumprirem em alguns lares cristãos as palavras de Jesus “...os inimigos do homem serão os da
sua própria casa” (Mt. 10.36).
Mas então, o que dizer da promessa feita à posteridade
de Abraão?
Leia com atenção:
“E não pensemos
que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato,
israelitas; nem por serem descendentes
de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua
descendência”. Romanos 9:6, 7
E
ainda:
“Essa
é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que
seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no
regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai
de todos nós” (Romanos 4:16).
Sejamos sinceros em reconhecer que a Igreja batiza aos adultos e administra a Ceia do Senhor, sem ter jamais a prova total de que os participantes são verdadeiros crentes. Ser circuncidado ou batizado não conferia e nem confere salvação a ninguém, seja aos antigos israelitas ou prosélitos, ou aos crentes modernos, mas expõe diante de todos o compromisso de fé e obediência ao eterno e único Deus que salva.
Sejamos sinceros em reconhecer que a Igreja batiza aos adultos e administra a Ceia do Senhor, sem ter jamais a prova total de que os participantes são verdadeiros crentes. Ser circuncidado ou batizado não conferia e nem confere salvação a ninguém, seja aos antigos israelitas ou prosélitos, ou aos crentes modernos, mas expõe diante de todos o compromisso de fé e obediência ao eterno e único Deus que salva.
Mas, se o batismo não assegura a salvação; então por
que batizar?
Para
que a Igreja visível seja coerente com sua missão de reconciliação do homem com
Deus, a começar daqueles que o Senhor tem feito nascer em seu arraial,
identificando-os, não como anjinhos, mas como pecadores diante de um Deus gracioso,
que os chama para a fé e a obediência em Jesus, para que falemos como Josué: Eu e a minha casa serviremos ao Senhor! Ora, se
não crermos no poder da palavra de Deus em nossos lares, com que ânimo a
pregaremos ao mundo?
Assim,
da relação direta entre circuncisão e batismo; da aliança eterna de Deus com
seu povo e da confiança que isto nos inspira, num estudo sincero e dedicado da
Palavra de Deus, podemos assegurar que toda criança nascida no seio da Igreja,
carrega desde cedo o compromisso de servir e amar a Deus.
Não
se trata de nenhum tipo de transmissão física da fé, mas da aplicação da regra
geral expressa em Provérbios 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve
andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”.
Não
temos certeza se todos os batizados são ou serão verdadeiros crentes, não temos
conhecimento do coração de cada um, mas temos o dever de tratar a todos como
membros legalmente inseridos na Igreja visível, sujeitos aos privilégios e
obrigações decorrentes do pacto.
Os
pais crentes, bem como toda a Igreja, são responsáveis por desenvolver e
solidificar este entendimento na mente da criança. E, neste ponto temos visto
um fragrante desrespeito à aliança, pois muitos pais tem relegado o ensino
cristão à igreja, e há igrejas que não tem dado suficiente atenção ao
departamento infantil, que em certos casos funciona como entretenimento aos
pequenos, enquanto seus pais participam do culto no templo.
Nestes
casos, tem havido um grande distanciamento entre pais e filhos, ao ponto de, em
chegando a idade, estes últimos se “assustem” com o culto adulto, sua
seriedade, seu compromisso, sua solenidade.
Não
se trata aqui, em absoluto, de se lutar por um culto menos solene, mais
agradável, pois julgo que este tem sido o caminhar de muitos em nossos dias, e
que a ênfase ao lazer e ao sentir-se bem já tem ceifado muito do que em outros
tempos nosso Senhor falou acerca do “negar-se a si mesmo” e de buscar a “glória
de Deus”.
A
isto se soma a falta do ensino da teologia da aliança aos filhos dos crentes;
que, em muitos casos são “evangelizados” e convidados a aceitarem a Jesus, em
completa desconsideração ao compromisso que
a criança crente já nutre com o Senhor Jesus, desde a mais tenra infância, como
se reputasse em pouco ou nada o fato da Providência ter lhe dado um berço
cristão. Tem-se falado acerca de “aceitar Jesus como seu salvador”, e pouco se
têm dito do direito que o Senhor desde o seu nascimento tem sobre sua vida e os
deveres que isto lhe acarreta.
Uma
vez entendido o antigo rito da
circuncisão, e o batismo como seu correspondente neo-testamentário, vale
lembrar que não se perguntava ao israelita se ele aceitava a Deus como seu
Senhor, antes apontava-lhe as bênçãos do pacto e as maldições decorrentes de
sua quebra. Do mesmo modo, devem os pais crentes ensinar seus filhos a amar e
respeitar o seu Deus como o Deus deles, o seu Senhor como o Senhor deles. “Ensina a criança no caminho em que deve andar”! Fiz questão de enfatizar, DEVE andar; para a criança é uma questão de dever antes que de uma escolha pessoal, ainda mais importante do que tomar banho, dormir na hora certa ou ir à escola é um compromisso da família cristã com Deus e a Sua Igreja!
Devem
assim, os pais, além de trazerem fielmente os filhos ao batismo e aos trabalhos
religiosos, lembrar-se que é no lar que a criança aprende aquela lição tão
difícil chamada vida cristã, que reconhecerá, no modo como os pais a tratam,
cuidam e corrigem; nos momentos de tensão; quando a necessidade parece ser bem
maior que a possibilidade; quando o pastor e os irmãos da igreja não estiverem
por perto.
Além
disso, é o momento de a igreja, se ainda não fez, compreender que o batismo
infantil é mais do que um pacto entre Deus, os pais e as crianças, é também um
compromisso que a igreja assume de bem receber, cuidar, amparar e ensinar os
pequeninos. É preciso considerar se estamos tornando o evangelho acessível às
crianças, é preciso que elas aprendam a grande diferença que há entre as
histórias bíblicas e verídicas da travessia do mar vermelho, da luta de Davi
com Golias, dos milagres de Jesus, etc. e as tantas fábulas dos livros
infantis. Lembremo-nos do famoso reformador Martinho Lutero que ensinava que o
sermão não devia ser expresso em jargões teológicos, mas na linguagem clara e
viva do povo: “ Não prego para os doutores Pomerano, Jonas e Filipe’, mas para
os meus pequenos Hans e Elizabeth”.
Não
pode ser que estejamos tão interessados em trazer os de fora que não vejamos
como os nossos filhos necessitam desde cedo do evangelho. E nada, asseguro, nem
jogos, nem festivais, nem atividades, poderão segurá-los legitimamente na
igreja a não ser a correta compreensão da graça salvadora, revelada de maneira
toda especial na família cristã.
Assim,
deve-se facilitar à criança o entendimento que a igreja e a mensagem de Deus é
tão sua quanto de seus pais.
Teve
este trabalho a função primordial de esclarecer que nem todo o batizado é
salvo, mas, até que se prove o contrário, devemos considerá-lo como tal,
todavia, e antes de tudo, todo o nascido na comunidade da aliança deve ser
batizado pois se encontra em relação pactual com Deus, sendo imbuído de todos
os deveres e privilégios advindos da aliança. Assim, não é bom pai o crente, e
nem bom crente o pai, que não vê em seu filho um discípulo de Cristo.
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a
autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou
convosco todos os dias até à consumação do século”. Mateus 28. 18-20
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e
especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o
descrente”. I Tm 5:8
Tudo
isto deve ser entendido, ao trazermos nossos pequenos ao batismo, que é um
sinal da aliança de Deus conosco e com nossa família, uma aliança para toda a
Igreja e para toda a vida. Mas, caso uma voz persista em dizer que o batismo
jamais pode causar ou garantir a salvação de alguém, quanto mais de recém
nascidos, no intuito de torná-lo mera e dispensável cerimônia, devemos, com veemência insistir que nada do que o
Senhor tem ordenado pode ser considerado desprezível ou sem sentido, pois se
Ele quis marcar como seus os infantes do Antigo e do Novo Israel, alegremo-nos
e cumpramos o Seu bendito querer.
Entendo a importância dos pais ensinarem os seus filhos a temerem ao Senhor, mas não consegui fazer a relação desta responsabilidade paternal com o batismo infantil. Shalom! E parabéns pelo blog, muito elucidador.
ResponderExcluirQuerido irmão e pastor Eliel, nossa amizade é prenúncio daquela que continuaremos na glória com Nosso Senhor, quando teremos melhor entendimento da vontade de Deus, onde já não mais haverá debates ou divergências. Contudo, enquanto nesta vida, temos o dever de fazer o melhor que pudermos com a iluminação que o Senhor nos deu! O que procurei demonstrar é que assim como no Antigo Testamento a circuncisão selava os novos convertidos e os filhos dos crentes para a sua entrada na igreja e uma vida com Deus, também se dá atualmente com o batismo, tanto a adultos que se convertem, como os filhos que nascem na igreja. Os adultos são batizados para uma nova vida e os infantes para uma vida inteira com Cristo. Tanto o adulto batizado como o menor, sob a guarda dos crentes, necessitam de ensino e direção, enquanto se aguarda com oração e esperança os frutos então semeados. Em nenhum desses casos temos a plena certeza da salvação do batizado, mas cremos na importância deste selo ordenado por Cristo!
ResponderExcluirSua participação muito me honra, parabéns também pelo seu blog! (http://versandoabiblia.blogspot.com/)
Em Cristo,
Pr. Sandro Márcio