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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Por que batizamos nossas crianças?


O Pb. Carlos Alberto solicitou:
Caro Pr. Sandro, discorra sobre a validade do batismo infantil!

Amado irmão e Pb. Carlos, de forma breve vou pontuar acerca do fundamento bíblico e teológico para batizarmos os filhos dos crentes.


“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. Mateus 28. 18-20
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente”. I Tm 5:8

Para que entendamos o batismo cristão, e o batismo infantil como sua expressão legítima, não podemos perder de vista o seu verdadeiro significado; pois, como dizia o Rev. João Calvino:  “Em primeiro lugar, é doutrina em que todos os fiéis estão de acordo, que  a devida consideração dos sinais ou sacramentos que o Senhor instituiu em sua Igreja, não consiste somente no exterior nem nas cerimônias visíveis, senão que principalmente depende das promessas e mistérios espirituais que o Senhor quis representar  com tais cerimônias. Deste modo, aquele que quiser saber o significado do batismo e a que fim está destinado, não deve deter-se meramente na água e nas cerimônias exteriores, mas deve considerar às promessas de Deus , que se nos fazem no Batismo, e as realidades espirituais que nele se nos representam. Se chegarmos a isto teremos a verdadeira substância e verdade do Batismo; e assim teremos a compreensão do fim para o qual tem sido ordenada a aspersão da água que é feita no Batismo, e para que isto nos serve. Se, todavia, não tivermos isto presente, e nosso entendimento se detém exclusiva e unicamente no que exteriormente se executa, jamais compreenderemos sua virtude, nem quão importante coisa é o batismo, nem o que significa a água, e nem mesmo qual é o seu uso.”.
            Deste modo, o batismo é o sinal e a confirmação da entrada do indivíduo na Igreja, como comunidade da aliança com Deus. O batismo com água representa a nossa inserção ao povo do pacto; assim como foi com a circuncisão no antigo Israel, é agora com o batismo no Novo Israel de Deus, a Igreja Cristã; e isto está em perfeita sintonia com o pastor Zuínglio, quando dizia que “o batismo infantil  era um fato essencialmente eclesiástico”.  Com o batismo, assumimos os menores, filhos dos crentes (e crianças em sua guarda) como crentes também. Damos-lhes a educação e o tratamento de legítimos membros da família da aliança, ensinando-lhes as verdades e as responsabilidades do verdadeiro compromisso com Deus; enquanto rogamos a Deus que, por sua obra interna, produza neles os frutos de uma nova vida, que serão visíveis na idade da razão, e posteriormente confirmados em sua pública profissão de fé. Graças ao bom Deus inúmeras vezes temos colhido semelhantes resultados. E quando não ocorre a profissão de fé do adulto que foi batizado na infância, é este automaticamente excluído do rol de membros menores, devendo ser acompanhado de perto pela igreja, com as orações de que a semente plantada na infância venha um dia, finalmente a florescer.
Para aqueles que exigem um texto bíblico que ordene explicitamente o batismo infantil, devolvemos a obrigação de apresentar o fundamento que os crentes atuais têm para não contemplar as crianças como corpo de Cristo; será que apenas a Antiga Aliança é que prezava os pequeninos como parte integrante do povo de Deus?
Todavia, alguns objetam citando Marcos 16.15. “Quem crer e for batizado será salvo”, dizendo que sem fé não pode haver batismo; mas esquecem que este texto nem de longe tenta tratar acerca do batismo infantil, seja condenando-o ou ratificando-o. Pois, se este fosse o caso, como trataríamos o final: “e quem não crer será condenado”? A criança que ainda não pode crer está condenada? Creio que semelhante sentença só poderia ser dada pelo Senhor Jesus; mas ele, muito ao contrário, ao se referir às crianças que eram levadas pelos pais crentes à sua presença disse: “dos tais é o reino dos céus” (Lc. 18.16). Todavia este mesmo texto é citado pelos anti-pedobatistas, como que a perguntar: se as crianças devem ser batizadas, não seria aquele o melhor momento de fazê-lo? Por que não se diz que Jesus as tenha batizado, apenas que elas foram apresentadas a Jesus, como é feito na igrejas batistas de todo o mundo. Entretanto, mais uma vez, o silêncio não serve nem para provar que aquelas crianças foram e nem para dizer que não foram anteriormente batizadas juntamente com seus pais; contudo, despreza-se um ponto importantíssimo do texto, pois,  Jesus disse daquelas crianças que elas já possuíam a cidadania do reino de Deus, e como o batismo com água é apenas a representação visível desta realidade, e tendo elas a realidade garantida por Jesus, a figura, que é elemento secundário diante da realidade, não lhes pode ser negada.
E, quanto à fé, como elemento instrumental da salvação, podemos dizer que em muitos pontos da Escritura encontramos a inserção das crianças, antes mesmo que pudessem crer, vemos que a ação de Deus antecipa-se e ocasiona a resposta positiva do homem, de tal modo que pela soberania divina, até mesmo crianças ainda não nascidas já são dadas como regeneradas, como foi o caso de João Batista, que era cheio do Espírito Santo desde o ventre materno, e de lá já se regozijava com a proximidade do Filho de Deus (cf. Lc. 3). Este foi também o caso de Sansão e Samuel, que, como nazireus de Deus, foram especialmente dedicados ao Senhor por seus pais, desde o ventre materno, para não apenas serem tomados pelo Espírito Santo para uma obra, e sim para todo o desenrolar de sua vida, onde, a despeito de suas falhas e pecados, completaram brilhantemente a obra à qual foram chamados. Alguém pode replicar que foram casos especiais; e de fato, foram casos especiais como Isaque, Moisés, Davi, Jeremias, Timóteo e tantos outros, do Antigo e do Novo Testamento, dos quais a Bíblia nada fala de conversão, e reconhecemos que eles carregaram em sua carne e honraram o sinal do compromisso de sua família com Deus, pois eram de fato e de verdade filhos de Abraão. Embora não possamos dizer que isso se dê com todas as crianças, e nem mesmo com todos os filhos de crentes, mas demonstramos que não há impedimento algum de Deus regenerar e salvar aqueles a quem quer, mesmo que estejam ainda impossibilitados de entender ou de exercer fé. É, realmente, uma grande bênção, e um favor especial da parte de Deus, manifestar-se graciosamente aos filhos de seus filhos, e quão terno e sublime é ouvir o nosso filhinho dizer suas primeiras palavras e suas primeiras orações.
Não se trata de afirmar aqui, como querem alguns, que todo o filho de crente tem a sua salvação garantida. E, infelizmente há os que citam Atos 2.39, como se tal coisa fosse promessa de Deus; mas vejamos:
“Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar”.
É evidente aqui o compromisso de Deus com as futuras gerações, inclusive com o vasto números de crentes que o Senhor suscita nos lares cristãos, mas ainda fica saliente o fato de que Deus se reserva o direito de chamar quem lhe apraz, pois, do contrário, seríamos levados a defender a doutrina universalista, uma vez que todos descendemos do justo Noé; contudo, diz a Escritura:
“tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, ainda que Noé, Daniel e Jó estivessem no meio dela, não salvariam nem a seu filho nem a sua filha; pela sua justiça salvariam apenas a sua própria vida”. Ezequiel 14:20
Também não podemos esquecer de outros exemplos de filhos que até em seus últimos momentos contradisseram os ensinamentos de seus pais, como Absalão filho de Davi, que morreu tentando matar o pai (2 Sm. 15 - 18), e o idólatra e infanticida Acaz, filho de Jotão e neto de Uzias (2 Reis 16), entre outros; tipos aos quais bem se aplica a pregação de João Batista: “e não comeceis a dizer entre vós mesmos: Temos por pai a Abraão, pois eu vos afirmo que destas pedras Deus pode suscitar filhos a Abraão” (João 3.8). E não nos surpreendamos que acerca de muitos destes pode bem ter sido dirigida a exclamação do apóstolo João: “Eles saíram de nosso meio, mas não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos teriam permanecido conosco; todavia eles se foram para que ficasse manifesto  que   nenhum deles eram dos nossos” (I João 2. 19). E isto não se observa apenas no passado, pois, com tristeza temos visto se cumprirem em alguns lares cristãos as palavras de  Jesus “...os inimigos do homem serão os da sua própria casa” (Mt. 10.36).
Mas então, o que dizer da promessa feita à posteridade de Abraão?
Leia com atenção:
 “E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas;  nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência”. Romanos 9:6, 7
E ainda:
“Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim de que seja firme a promessa para toda a descendência, não somente ao que está no regime da lei, mas também ao que é da fé que teve Abraão (porque Abraão é pai de todos nós” (Romanos 4:16).

Sejamos sinceros em reconhecer que a Igreja batiza aos adultos e administra a Ceia do Senhor, sem ter jamais a prova total de que os participantes são verdadeiros crentes. Ser circuncidado ou batizado não conferia e nem confere salvação a ninguém, seja aos antigos israelitas ou prosélitos, ou aos crentes modernos,  mas expõe diante de todos o compromisso de fé e obediência ao eterno e único Deus que salva.


Mas, se o batismo não assegura a salvação; então por que batizar?

Para que a Igreja visível seja coerente com sua missão de reconciliação do homem com Deus, a começar daqueles que o Senhor tem feito nascer em seu arraial, identificando-os, não como anjinhos, mas como pecadores diante de um Deus gracioso, que os chama para a fé e a obediência em Jesus, para que falemos como Josué: Eu e a minha casa serviremos ao Senhor! Ora, se não crermos no poder da palavra de Deus em nossos lares, com que ânimo a pregaremos ao mundo?
Assim, da relação direta entre circuncisão e batismo; da aliança eterna de Deus com seu povo e da confiança que isto nos inspira, num estudo sincero e dedicado da Palavra de Deus, podemos assegurar que toda criança nascida no seio da Igreja, carrega desde cedo o compromisso de servir e amar a Deus.
Não se trata de nenhum tipo de transmissão física da fé, mas da aplicação da regra geral expressa em Provérbios 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele”.
Não temos certeza se todos os batizados são ou serão verdadeiros crentes, não temos conhecimento do coração de cada um, mas temos o dever de tratar a todos como membros legalmente inseridos na Igreja visível, sujeitos aos privilégios e obrigações decorrentes do pacto.
Os pais crentes, bem como toda a Igreja, são responsáveis por desenvolver e solidificar este entendimento na mente da criança. E, neste ponto temos visto um fragrante desrespeito à aliança, pois muitos pais tem relegado o ensino cristão à igreja, e há igrejas que não tem dado suficiente atenção ao departamento infantil, que em certos casos funciona como entretenimento aos pequenos, enquanto seus pais participam do culto no templo.
Nestes casos, tem havido um grande distanciamento entre pais e filhos, ao ponto de, em chegando a idade, estes últimos se “assustem” com o culto adulto, sua seriedade, seu compromisso, sua solenidade.
Não se trata aqui, em absoluto, de se lutar por um culto menos solene, mais agradável, pois julgo que este tem sido o caminhar de muitos em nossos dias, e que a ênfase ao lazer e ao sentir-se bem já tem ceifado muito do que em outros tempos nosso Senhor falou acerca do “negar-se a si mesmo” e de buscar a “glória de Deus”.
A isto se soma a falta do ensino da teologia da aliança aos filhos dos crentes; que, em muitos casos são “evangelizados” e convidados a aceitarem a Jesus, em completa  desconsideração ao compromisso que a criança crente já nutre com o Senhor Jesus, desde a mais tenra infância, como se reputasse em pouco ou nada o fato da Providência ter lhe dado um berço cristão. Tem-se falado acerca de “aceitar Jesus como seu salvador”, e pouco se têm dito do direito que o Senhor desde o seu nascimento tem sobre sua vida e os deveres que isto lhe acarreta.
Uma vez entendido o antigo rito  da circuncisão, e o batismo como seu correspondente neo-testamentário, vale lembrar que não se perguntava ao israelita se ele aceitava a Deus como seu Senhor, antes apontava-lhe as bênçãos do pacto e as maldições decorrentes de sua quebra. Do mesmo modo, devem os pais crentes ensinar seus filhos a amar e respeitar o seu Deus como o Deus deles, o seu Senhor como o Senhor deles.  “Ensina a criança no caminho em que deve andar”! Fiz questão de enfatizar, DEVE andar; para a criança é uma questão de dever antes que de uma escolha pessoal, ainda mais importante do que tomar banho, dormir na hora certa ou ir à escola é um compromisso da família cristã com Deus e a Sua Igreja!
Devem assim, os pais, além de trazerem fielmente os filhos ao batismo e aos trabalhos religiosos, lembrar-se que é no lar que a criança aprende aquela lição tão difícil chamada vida cristã, que reconhecerá, no modo como os pais a tratam, cuidam e corrigem; nos momentos de tensão; quando a necessidade parece ser bem maior que a possibilidade; quando o pastor e os irmãos da igreja não estiverem por perto.
Além disso, é o momento de a igreja, se ainda não fez, compreender que o batismo infantil é mais do que um pacto entre Deus, os pais e as crianças, é também um compromisso que a igreja assume de bem receber, cuidar, amparar e ensinar os pequeninos. É preciso considerar se estamos tornando o evangelho acessível às crianças, é preciso que elas aprendam a grande diferença que há entre as histórias bíblicas e verídicas da travessia do mar vermelho, da luta de Davi com Golias, dos milagres de Jesus, etc. e as tantas fábulas dos livros infantis. Lembremo-nos do famoso reformador Martinho Lutero que ensinava que o sermão não devia ser expresso em jargões teológicos, mas na linguagem clara e viva do povo: “ Não prego para os doutores Pomerano, Jonas e Filipe’, mas para os meus pequenos Hans e Elizabeth”.
Não pode ser que estejamos tão interessados em trazer os de fora que não vejamos como os nossos filhos necessitam desde cedo do evangelho. E nada, asseguro, nem jogos, nem festivais, nem atividades, poderão segurá-los legitimamente na igreja a não ser a correta compreensão da graça salvadora, revelada de maneira toda especial na família cristã.
Assim, deve-se facilitar à criança o entendimento que a igreja e a mensagem de Deus é tão sua quanto de seus pais.
Teve este trabalho a função primordial de esclarecer que nem todo o batizado é salvo, mas, até que se prove o contrário, devemos considerá-lo como tal, todavia, e antes de tudo, todo o nascido na comunidade da aliança deve ser batizado pois se encontra em relação pactual com Deus, sendo imbuído de todos os deveres e privilégios advindos da aliança. Assim, não é bom pai o crente, e nem bom crente o pai, que não vê em seu filho um discípulo de Cristo.
“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século”. Mateus 28. 18-20
“Ora, se alguém não tem cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente”. I Tm 5:8
Tudo isto deve ser entendido, ao trazermos nossos pequenos ao batismo, que é um sinal da aliança de Deus conosco e com nossa família, uma aliança para toda a Igreja e para toda a vida. Mas, caso uma voz persista em dizer que o batismo jamais pode causar ou garantir a salvação de alguém, quanto mais de recém nascidos, no intuito de torná-lo mera e dispensável cerimônia, devemos,  com veemência insistir que nada do que o Senhor tem ordenado pode ser considerado desprezível ou sem sentido, pois se Ele quis marcar como seus os infantes do Antigo e do Novo Israel, alegremo-nos e cumpramos o Seu bendito querer.

2 comentários:

  1. Entendo a importância dos pais ensinarem os seus filhos a temerem ao Senhor, mas não consegui fazer a relação desta responsabilidade paternal com o batismo infantil. Shalom! E parabéns pelo blog, muito elucidador.

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  2. Querido irmão e pastor Eliel, nossa amizade é prenúncio daquela que continuaremos na glória com Nosso Senhor, quando teremos melhor entendimento da vontade de Deus, onde já não mais haverá debates ou divergências. Contudo, enquanto nesta vida, temos o dever de fazer o melhor que pudermos com a iluminação que o Senhor nos deu! O que procurei demonstrar é que assim como no Antigo Testamento a circuncisão selava os novos convertidos e os filhos dos crentes para a sua entrada na igreja e uma vida com Deus, também se dá atualmente com o batismo, tanto a adultos que se convertem, como os filhos que nascem na igreja. Os adultos são batizados para uma nova vida e os infantes para uma vida inteira com Cristo. Tanto o adulto batizado como o menor, sob a guarda dos crentes, necessitam de ensino e direção, enquanto se aguarda com oração e esperança os frutos então semeados. Em nenhum desses casos temos a plena certeza da salvação do batizado, mas cremos na importância deste selo ordenado por Cristo!
    Sua participação muito me honra, parabéns também pelo seu blog! (http://versandoabiblia.blogspot.com/)
    Em Cristo,
    Pr. Sandro Márcio

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